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E nada melhor do que passar o Carnaval com um pouquinho de bom e velho rock and roll, não? Então vamos pra sequência da história da banda estado-unidense The Runaways. E esse post vai abordar o conturbado período que se seguiu à turnê japonesa de 1977.

Como sempre, esse é um post do projeto Born to Be a Runaways Fan e as informações que uso foram declarações da própria banda. Para conferir a bibliografia, dê uma olhada nos posts anteriores.

No documentário Edgeplay, Jackie Fox diz:

As pessoas às vezes me perguntam: O que você acha da Lita? O que você acha da Joan? E a única resposta que consigo pensar é: Eu não as conheço! Sabe, eu não sou a mesma pessoa que eu era quando tinha 16 anos. E nós éramos todas incrivelmente difíceis do nosso jeito: Cherie nas Runaways era a pessoa mais egocêntrica que eu já conheci na vida. Lita era uma vaca. Sandy… Sandy apenas parecia ser incapaz de um pensamento independente. Ela tinha a melhor das intenções, mas era facilmente convencida por quem quer que seja da banda que fosse amiga dela na semana em questão. E Joan era, provavelmente, naquele momento, a pessoa mais estável, a que era a peça central na banda. E eu era uma terrível sabe-tudo insegura. E colocar-nos todas juntas era uma batalha de problemas de personalidade.

Com a saída de Jackie no final da turnê do Japão, os ânimos não se acalmaram. Pelo contrário, a tensão decorrente das diferenças de personalidade permaneceu entre as membros juntamente com a competitividade e agora as apresentações para a escala de uma nova baixista.

Vicki Blue antes da mudança de visual imposta por Lita...

Algumas garotas tocaram até que Vicki Blue (Victory Trischler-Blue) apareceu. Vicki ficou sabendo por um amigo que Jackie Fox tinha saído da banda no Japão e ligou para Kim Fowley a fim de marcar um teste. Em Edgeplay, ela diz que se lembra de entrar no estúdio de ensaio e abrir a porta para dar de cara com a banda lá dentro. Ela diz que houve um “momento congelado no tempo” para depois pensar imediatamente: “Ah meu Deus, ela realmente parece comigo!”. E ela estava se referindo a Lita Ford.

A banda ensaiou com Vicki algumas músicas e de acordo com a última, o ensaio foi bom. Então as Runaways pediram que Vicki deixasse a sala para deliberar a decisão. Vicki diz que se sentiu ansiosa, pois queria muito entrar para a banda. Quando ela entrou na sala mais uma vez, Cherie estendeu a mão para ela e disse: “Bem-vinda às Runaways!”. Mas Vicki e Lita realmente se pareciam muito o que, obviamente, não deixava Lita nada feliz. Para resolver o “problema”, Lita pintou o cabelo de loiro e convenceu Vicki a fazer um permanente. Mas ainda assim, as duas passariam facilmente por irmãs.

Lita... realmente parecidas, não?

Mas estranhamente, Vicki e Lita se tornaram um tanto próximas. Em Edgeplay, Lita diz que considerava Vick sua responsabilidade. Foi ela quem ensinou a Vicki todas as antigas músicas das Runaways (e lembrando aqui que Lita é uma ótima baixista! rs) e as duas passavam algum tempo juntas. Ainda no documentário, Lita diz que estava cansada da atmosfera tensa da banda naquela época e que Vicki trouxe um certo ar fresco. Passar um tempo com Vicki era mais tranquilo uma vez que ela não estava envolvida em antigos joguinhos de poder ou em ressentimentos passados.

 O limite de Cherie

Com uma nova integrante, a banda precisava investir mais uma vez em sua imagem. Por isso uma sessão de fotos foi marcada a fim de apresentar The Runaways em sua nova formação. O fotógrafo era Barry Levine, o mesmo que à época fazia a maior parte das fotos promocionais da banda bem como a capa dos álbuns. O ensaio, no entanto, não saiu como o esperado. Essa história tem duas versões, então vamos lá:

  • Versão de Lita Ford e Vicki Blue

Uma das fotos em grupo da sessão fotográfica fatídica...

Lita deu carona para Vicki até o estúdio e lá, juntamente com as outras Runaways, ficaram esperando por Cherie, que chegou duas horas atrasada porque dividia o carro com sua irmã. Lita ficou p da vida, mas a sessão de fotos rolou. No entanto, quando a banda começou a fazer a sessão de fotos individuais, Cherie disse que tinha que ir embora mais cedo. Levine, irado, atirou a câmera no chão e começou a gritar. Cherie, assustada, saiu correndo para o vestiário e começou a se trocar. O problema é que Lita já tinha perdido a cabeça com a história toda. Ela foi atrás de Cherie e literalmente arrombou a porta para empurrar Cherie contra a parede e dizer: Ou é a banda ou a sua família! Cherie, em pânico, diz que era sua família e depois emenda com um: “Eu não posso trabalhar com essa mulher!” e vai embora. Antes de sair do estúdio, no entanto, ela segura o braço de Vicki e pergunta: “Vicki, você vem comigo?” e Vicki diz que não. É aí que Cherie sai da banda.

No documentário Edgeplay, Lita diz que já estava de saco cheio de Cherie e de seus problemas familiares. Ela diz que se importava muito com a banda, com a música e que estava disposta a trabalhar duro para o sucesso das Runaways, coisa que ela achava que Cherie não estava fazendo. De acordo com Lita, Cherie estava sempre atrasada e mais preocupada com relacionamentos (referência ao affair entre a loira e Scott Anderson) e drogas do que com o que era melhor para sua carreira.

  • Versão de Cherie Currie

Cherie chega no estúdio e avisa Barry Levine que tinha que ir embora mais cedo pois tinha que entregar o carro para sua irmã gêmea, Marie, que tinha aulas de atuação, às sete horas. Barry diz okay, mas Lita chega duas horas atrasada e a sessão demora mais do que o planejado. Cherie então, no meio da sessão, anuncia que precisa sair. Levine, irado, atira a câmera no chão. Percebendo que a situação ia ficar feia, Cherie sai correndo para o vestiário e tenta sair dali o mais rápido possível. Mas Lita vai atrás dela, derruba a porta e começa a gritar. No meio da briga, Lita diz que existe a banda e a família e que todas as outras escolheram a banda. Cherie diz que escolhia sua família e vai embora.

E mais uma vez Cherie entra em conflito com seus depoimentos. Enquanto que em sua autobiografia, Neon Angel,  ela diz que ficou arrasada com sua saída das Runaways e que teria voltado se as outras garotas tivessem ido atrás dela para conversar, em Edgeplay ela diz que já tinha tido o bastante e que foi um alívio sair e começar sua carreira solo. Como sempre, drama queen. Eu, pessoalmente, acredito na versão de Vicki Blue e Lita Ford. Até porque são duas pessoas contando a mesma história e Vicki é uma figura bastante mais coerente que Cherie.

E é assim que Cherie Currie, a Cherry Bomb, abandona The  Runaways. No entanto sua imagem com o espartilho branco seria para sempre associada à banda.

Seguindo em frente como um quarteto

No dia seguinte da saída de Cherie, as membros remanescentes da banda se reuniram e Joan teve que assumir a responsabilidade de ser o vocal principal. Tanto Lita quanto Vicki dizem que Joan teve um flash de insegurança, se perguntando se seria capaz de fazer aquilo. A banda a apoiou e a ajudou a escolher as músicas que Cherie cantava que ela poderia cantar. Vicki Blue diz em Edgeplay que esse foi o único momento de camaradagem que experenciou durante toda sua estada com as Runaways.

Vicki ao lado de Joan, agora frontman num estilo bastante diferente da anterior

Joan Jett se tornou uma excelente frontman, apesar de ter um estilo completamente diferente de Cherie. A banda pós-Cherie, inclusive, parece outra. A pegada punk se tornou mais forte bem como músicas mais pesadas, uma vez que a banda não tinha mais lidar com os pedidos de músicas melódicas de Cherie. Joan tinha uma postura agressiva no palco, mas bem menos sensual. Nada de corpetes, nada de lingeries. Joan Jett usava calça jeans rasgada e no máximo seu macacão vermelho (que ela abandonou depois de 77).

Uma nova imagem se formava para a banda. Cherie fazia o tipo femme fatale misturado com drama queen, enquanto Joan era mais masculina  e durona e tinha uma atitude rock and roll facilmente confundida com arrogância segundo alguns produtores (dentre eles, Toby Mamis). Cherie usava as mãos, se abaixava e dançava para impor sua presença no palco. Joan, por motivos óbvios, não podia fazer isso. Ao invés disso, ela passou a usar os olhos (aquele olho arregalado que mais tarde seria uma de suas marcas registradas), mascar chiclete e dar umas jogadas de ombro. Os ombros curvados que tanto desagradavam Kim Fowley acabaram se tornando sua postura clássica no palco.

Nos comentários do filme The Runaways, Joan disse que Kim Fowley achava que The Runaways sem Cherie Currie estava fadada ao fracasso. Ela diz que ele nunca falou isso, mas que ela podia sentir e que ficou feliz quando provou a ele que ele estava errado.

Da voz no limite melódica de Cherie Currie para a interpretação seca e agressiva de Joan Jett

O que Fowley temia era que sem o apelo sexy explícito a banda não fizesse mais sucesso. De certa forma isso não aconteceu, mas é verdade que o público mudou junto com o som. Possivelmente alguns fãs não gostaram da nova cara da banda e Waitin´ for the Night não foi um álbum bem recebido na época. Pelo menos não nos Estados Unidos.

Das músicas que Cherie cantava, Joan passou a cantar “Queens of Noise” integralmente, “California Paradise”, “American Nights” e “C´mon”. Em termos técnicos, Cherie Currie era uma melhor vocalista, mas Joan Jett conquistou os fãs com a atitude rock and roll.

Diz aí que o vídeo é de 78, mas pelas roupas, imagino que seja 77. Tinha um vídeo de ótima qualidade dessa música sem Cherie, mas não consigo achar em lugar nenhum do Youtube mais. Alguém tem?

Kim Fowley se afastou um pouco e Toby Mamis passou a gerenciar a banda. Em meio a essa fase de adaptação, é importante dizer que o clima estava extremamente tenso e que as drogas já eram mais que rotina. Vicki Blue, na época, era a única que não usava drogas. Foi nesse cenário que Waitin´ For the Night, o quarto álbum da banda foi gravado em agosto de 77.

Título: Waitin´ for the Night

Lançamento: outubro de 1977

Gravadora: Mercury Records

Produção: Kim Fowley

1.Little Sister (Jett / Inger Asten): Essa primeira música já mostra o que vai se ouvir nesse álbum: guitarras mega altas e distorcidas, vocal agressivo e letras nervosas sobre a noite na cidade, curtição e encontros amorosos. Joan apanhava para cantar esse refrão ao vivo, mas também era uma das melhores interpretações dela nos shows. Uma vez vi um comentário no Youtube dizendo que esse álbum deveria se chamar “Kids in Hate”  por conta do refrão dessa música e eu acho que é verdade.

2. Wasted (Jett / Fowley): Uma música sobre jovens drogados nos clubes da cidade. “Wasted” acaba sendo uma mistura conflitante de uma inspiração punk (Joan) com outra heavy metal (Lita). No final o punk ganhou, mas o solo de Lita nessa música é muito bom.

3. Gotta Get Out Tonight (Jett): Seguindo a linha mais pesada das músicas anteriores, essa apresenta guitarras em excelente forma, tanto da parte de Lita quanto de Joan. E destaque para Vicki, que é uma baixista muito melhor que Jackie.

4. Wait For Me (Jett): Uma balada romântica escrita por Joan, mas que não deixa de lado as guitarras. Um riff bem bolado, não cansa. A voz de Joan mescla uma interpretação mais suave com seu tom usual agressivo.

5. Fantasies (Ford): Primeira música composta 100% por Lita Ford que aparece num álbum, essa faixa não poderia deixar de ser o alívio mais metal num álbum quase todo punk. A música, lenta e melódica, apela para arranjos de guitarra e um solo excelente. Apesar de bem composta e bem executada, algumas vezes ela me cansa. Uma faixa longa se formos analisar outras músicas da banda.

6. School Days (Jett / Fowley): Joan canta sobre experiências na escola e a vida depois dela. Provavelmente a música mais tocada da época. Lita faz uns enfeites muito legais nessa música, mas sempre senti falta de um solo.

7. Trash Can Murders (Ford): Lita faz uma letra sinistrona sobre assasinatos à noite (bem estilo metal mesmo) somada a uma pegada de guitarra muito bem feita. Joan interpreta a música no que é seu melhor vocal no disco inteiro e eu arriscaria dizer nos álbuns de estúdio das Runaways. Ah, e o solo de Lita é excelente e a guitarra base de Joan também. Ah, e Vicki e Sandy também foram muito bem. Enfim, essa faixa é ótima! Apesar da letra sinistrona.

8. Don´t Go Away (Jett): Outra música mais romântica de Joan. Gosto bastante dos vocais agudos de Joan aqui, mostra um pouco da sua versatilidade vocal.

9. Waitin´ for the Night (Jett / Fowley / Krome): A faixa-título é uma balada com um refrão pesado e uma letra mais poética bem Kari Krome.

10. You´re Too Possessive (Jett): Para o final temos uma música bastante intensa com vocais mega agudos de Joan Jett sobre um caso de affair possessivo. Inclusive,  os backs mega agudos eram um sofrimento nos shows ao vivo. Mas destaque para Lita.

A contracapa da Waitin´ For the Night

 Dessa época estão alguns vídeos de apresentações da banda na TV, vale a pena conferir:

Ah, e esqueçam a legenda do vídeo acima pois até toda errada. Até diz que Lita é Cherie… Imagina se a Lita vê uma coisa dessas…

 Uma perda

Um fato não muito comentado a respeito da formação de The Runaways como um quarteto é que a banda perdeu seu backing vocal de qualidade. Até a saída de Cherie, os backs ao vivo eram incríveis. Na formação clássica, Joan e Jackie faziam o back para Cherie. Um dos talentos não muito mencionados de Joan Jett é que ela é uma excelente backing vocal, conseguindo dar força ao vocal principal e ao mesmo tempo imprimindo sua marca. Cherie também fazia backs ótimos e o mesmo se diz de Jackie Fox, que tinha uma voz muito bonita por sinal.

Com a saída de Jackie e mais tarde de Cherie somado ao fato de que Joan agora era o vocal principal a responsabilidade maior dos backs caiu sobre Lita. E Lita Ford tem um back medíocre na minha opinião, de péssima qualidade. Desafinado e sem coordenação. Vicki Blue era uma back melhor, mas estranhamente, ela não era fã do microfone e nos vídeos que podemos ver da banda, é raro vê-la com um pedestal na frente. Quanto a Sandy West, ela normalmente faz coro e não back. No álbum de estúdio, Joan gravou todas as segundas vozes e backs (apesar de eu desconfiar que tem Sandy no coro às vezes).

 The Runaways como um quarteto se tornou uma banda mais underground, uma vez que apelo sexual que Kim Fowley tanto queria, perdeu sua força. Joan Jett disse, se não me engano nos comentários do filme The Runaways, que elas eram infelizes na época e que uma prova disso é que não há fotos delas sorrindo na época. Lita Ford diz no documentário Edgeplay que tudo que aprendeu no cenário musical com The Runaways veio do jeito mais difícil possível. Sandy West, por outro lado, diz que estar na banda foi a melhor época de sua vida.

Com o álbum mais Joan Jett de todos gravados pelas Runaways, não só pelo número de composições mas também pelo apelo punk, a banda fez alguns shows nos Estados Unidos e depois se lançou na segunda turnê pela Europa tocando em países como Reuno Unido, França, Bélgica e Holanda.

De volta aos EUA em dezembro de 1977 se prepararam para a turnê nacional ao lado de bandas como os Ramones.

Aguardem o próximo post que traz o ano de 1978!

Bibliografia

  • The Runaways Collector: um canal no Youtube com várias gravações raras de TV da banda. Vale MUITO a pena ver.

E finalmente mais um post da sequência que conta a história e a discografia da banda estado-unidense The Runaways e nada mais apropriado do que voltar essa coluna com a parte mais memóravel da história da banda que é a turnê japonesa de 1977.

Lembrando que esse post é parte do projeto Born to Be a Runaways Fan e que as fontes que eu uso para contar essa história são depoimentos ligados às integrantes da banda. Para conferir o que aconteceu nos anos anteriores da banda, clique aqui, e dê uma checada na bibliografia!

Depois da gravação de Queens of Noise, a Mercury Records, então gravadora das Runaways, investiu pesado em marketing para o novo álbum e para a nova turnê. A campanha englobava a confecção de camisetas, outdoors pela cidade e uma nova turnê nacional que dessa vez foi feita de avião e não num carro apertado, o que demonstrava um aumento da popularidade e do arrendamento da banda, o que não significava, é claro, que as garotas estivessem recebendo algum dinheiro.

Cherie Currie em sua biografia conta que bandas como Cheap Trick e Tom Petty abriram shows das Runaways nessa turnê e que as rádios tocavam suas músicas. Mas Cherie conta ainda que essa foi uma época tensa entre as membros e que havia situações difíceis como lavar a roupar no banheiro do hotel, coisa que Lita ensinou. Antes disso, elas todas estavam vestindo a mesma camiseta suada  e nojenta e jeans sujos todas as noites.

Foi nessa turnê que a banda tocou mais uma vez no CBGB´s, a lendária casa de shows em Nova York. A primeira vez foi em agosto de 1976, e tem umas fotos bem legais dessa época aqui.

Logo depois da turnê nacional, surgiu a possibilidade de se fazer uma turnê no Japão. A banda liderava a importação de discos por lá, ficando atrás só dos Beatles e do Led Zeppelin para se ter uma idéia. “Cherry Bomb” foi hit nas rádios japoneses e a idéia de uma turnê de dois meses no verão de 1977 pareceu uma grande oportunidade para os produtores da banda e para a Mercury Records.

Mas ninguém esperava por isso.

Estrelas no Japão

O enorme sucesso da banda no Japão até hoje é motivo de especulação por parte de fãs e das próprias integrantes da banda, que, acostumadas aos maus tratos e humilhações nos Estados Unidos, foram surpreendidas com o tratamento de estrelas internacionais em Tóquio. Sobre a surpresa e a fama que foi a estadia japonesa, Joan Jett disse:

Nós éramos grandes, como os Beatles.Tudo foi muito inesprado. Ninguém nos disse que éramos bem consideradas lá. Nós passamos por um monte de merda nos Estados Unidos e um monte de merda na Inglaterra também. Apesar de que eles eram um pouquinho mais receptivios e um pouquinho mais compreensivos na Inglaterra, mas mesmo assim passamos um monte de merda. Mas quando chegamos ao Japão, era literalmente como se fôssemos os Beatles, mas eram as garotas que eram os fãs. Nos EUA e na Europa, a maioria era caras gritando “Tirem a roupa!”. No Japão, onde mulheres são realmente consideradas cidadãos de segunda classe, milhares de garotas estavam nos seguindo pela rua com escovas de cabelo dizendo “Escove seu cabelo”. Elas não queriam ser rudes e rancar seu cabelo, então elas te davam uma escova de modo que você poderia pentear o cabelo.

http://www.juicemagazine.com/JOANJETT.html

Pegar fios de cabelo como souvenir e serem perseguidas pela rua foram somados a presentes no hotel, flores nos quarto de hotéis cinco estrelas, jóias e quimonos de seda. Os shows eram lotados com uma plateía fanática e fiel que ficava em fila para ver suas ídolas ao vivo. O resultado foi um estouro nas rádios do Japão, a gravação de vídeos, entrevistas e performances na TV japonesa. São esses os primeiros vídeos que temos de The Runaways tocando ao vivo.

Vídeo produzido com a banda. O som é playback:

Vídeo do show ao vivo na TV:

É difícil entender o sucesso da banda no Japão, principalmente ao se pensar que a base de fãs era toda composta por mulheres, que tradicionalmente são reprimidas na sociedade japonesa. Entender porquê rock ´n´ roll nervoso com letras que falavam explicitamente sobre sexo cantadas por adolescentes em roupas insinuantes foi bem aceito pelos japoneses é um mistério pra mim. (Alguém por favor tem uma teoria interessante?) Imagino que o fato de The Runaways ser uma banda bem visual possa ter chamado a atenção dos japoneses e também as mulheres podem ter visto nessas garotas um espelho para seus próprios desejos de rebeldia. The Runaways, inclusive, inspirou a criação de uma banda de rock japonesa só com garotas, as GIRLS.

Cherie Currie: no centro da banda

A briga para ser o centro das atenções era uma das estratégias utilizadas por Kim Fowley e Scott Anderson a fim de fazer com que a banda ficasse sob o controle deles. Se bem que antes da turnê japonesa, Scott Anderson já tinha deixado de ser o gerente da banda e sua saída não é bem explicada. Cherie diz em sua biografia que provavelmente ele pediu um aumento e Kim Fowley negou. Mas a estratégia de segregação de Fowley continuava.

Cherie, por ser a vocalista, tinha mais atenção da mídia. Seu visual produzido e  o escândalo do corpete também ajudava em fazer dela o centro visual da banda. Mas isso não era visto com bom olhos pelas outras integrantes. Jackie, no documentário Edgeplay, diz que Cherie nas Runaways era a pessoa mais egoísta que já conhecera. Em sua biografia, Cherie diz que Jackie era insuportável porque sempre reclamava de tudo e condenava o abuso de álcool e drogas por parte das outras quatro. Mas é estranho porque Jackie afirma em seu blog que ela e Cherie normalmente se davam bem e na primeira versão da biografia de Cherie, “Neon Angel: The Cherie Currie Story” ela diz que Jackie era a pessoa mais sã e legal da época. Vai saber qual era verdade. Cherie é descrita sempre como uma drama queen mor que muda a versão dos fatos dependendo da época.

Cherie e Lita na turnê de 1976. Tensão eterna...

Mas parece ser verdade que ela se dava bem com Joan e com Sandy de maneira mais geral. Inclusive, em Edgeplay Cherie confessa que teve relações sexuais com as duas, mas que nunca foi nada sério, uma vez que só estavam “experimentado” com a questão da bissexualidade que ganhou destaque na época. Sandy não comentou nada sobre o fato, mas é verdade que a amizade entre Cherie e Sandy permaneceu após o fim das Runaways. Quanto a Joan, apesar de elas terem se afastado, a cena de sexo entre as duas está presente no filme The Runaways que foi produzido por Joan, então imagino que haja alguma verdade aí sim.

Mas uma coisa parece quase certa: Cherie não se dava bem com Lita. Em todas as versões, de todas as membros da banda, há relatos de brigas sérias entre Cherie e Lita que beiravam a agressão física. Em sua biografia, Cherie diz que normalmente era Sandy (a mais forte fisicamente da banda) que apartava as duas. E não era só uma questão de desagrado pessoal, Lita e Cherie eram diferentes em relação a quase tudo. Enquanto Cherie apreciava músicas mais melódias, Lita pendia pro heavy metal. Lita criticava os vocais de Cherie e suas composições e tinha muito ciúme da atenção recebida por ela. Isso porque, tecnicamente, Lita também recebia muita atenção devido a sua posição de destaque como guitarrista solo.

Foto do suposto "livreto da turnê" com as fotos sensuais de Cherie...

Mas a atenção delegada a Cherie na mídia japonesa (repare que ela é quem descaradamente mais aparece em TODOS os vídeos) explodiu com a banda toda quando, ao chegarem no quarto de hotel, a banda encontrou um livreto da turnê das Runaways contendo quase que exclusivamente fotos de Cherie. E pior, fotos sensuais de Cherie que foram tiradas antes que  banda fosse para o Japão e sem o conhecimento de ninguém.

Cherie, obviamente, disse que não sabia que as fotos teriam conotações tão sensuais (ahãm) e que pensou que todas da banda teriam suas foto solo. Mas a situação não ficou bem com o resto da banda, que achava que Cherie estava indo justamente na direção do que ninguém queria que era de posar de garota sexy para chamar a atenção. Na cabeça de Joan e Sandy, principalmente, aquilo era o que a banda menos precisava se quisesse ser levada a sério. A imprensa estado-unidense, principalmente, ainda colocava as Runaways como uma banda montada e projetada por Kim Fowley que não tinha talento nem vontade própria.

O clima ficou tenso, mas o glamour da turnê japonesa dispersou as más vibrações. E quanto a Cherie ela diz em sua autobiografia que começou um relacionamento com um cantor latino famoso da época que também estava em turnê no Japão (alguém sabe quem é?) e que eles chegaram a ficar noivas, mas a família dele proibiu o relacionamento.

Esse vídeo abaixo é composto de trechos de performances ao vivo da banda e uma breve entrevista com as integrantes. Interessante reparar a personalidade delas a cada comentário:

A turnê no Japão fez tanto sucesso que a banda gravou um álbum ao vivo que é a compilação de músicas de 7 shows diferentes mais tarde masterizadas e retocadas em estúdio. Live in Japan é considerado melhor álbum da banda e capta com muita precisão do que The Runaways é feito: energia pura.

Título: Live in Japan

Lançamento: 1977

Gravadora: Mercury Records/ Polygram

Produção: Kent J. Smythe e The Runaways

1. Queens of Noise (Bizeau): versão incrivelmente superior à de estúdio com Cherie cantando o primeiro verso e Joan e Jackie o segundo. Ao vivo a música ganhou mais força nas guitarras e mais energia. É essa a forma que se tornou mais conhecida entre os fãs e virou um clássico da banda.

2. California Paradise (Fowley/Jett/Krome/West): essa versão é tocada de forma mais rápida e com mais intensidade. A bateria de Sandy West está bem melhor do que na versão de estúdio, assim como como as guitarras de Joan e Lita, que ganharam mais destaque. E solo de Joan ao vivo, raridade!

3. All Right You Guys (Danielle Fay/Bob Willingham): essa música só possui essa versão e nunca foi gravada em estúdio. Gosto particularmente do baixo de Jackie na faixa e do modo que ele acompanha as guitarras. Um das melhores linhas de baixo de The Runaways, com certeza.

4. Wild Thing (Chip Taylor): com certeza o melhor de Sandy West, não só na bateria, mas nos vocais também. Destaque para o back de Joan (já perceberam como ela é uma ótima back?) e para as pegadas de guitarra. Essa música tem uma versão tocada por ninguém menos que Jimi Hendrix, então dizer que essa versão é sensacional não é qualquer coisa não.

5. Gettin´Hot (Fox/Ford): é uma música um tanto louca, que mexe bem com o lado mais pesado de Lita Ford. As guitarras são muito boas e só recentemente tivemos acesso à letra oficial da música, que está no blog de Jackie Fox, o Jackiefox.net. Os vocais de Cherie são muito bons também e bem intensos. O back fica por conta de Jackie. Essa música também não tem versão de estúdio.

6. Rock ´N´Roll (Lou Reed): Apesar de Joan ter gravado o vocal da versão de estúdio, foi Cherie quem sempre cantou a faixa ao vivo. No album ao vivo não foi diferente e devo dizer que a música fica melhor com Cherie cantando, fica mais enérgica, na minha opinião. Também é bacana ouvir Joan tentando levantar a galera. Um pouco imatura a iniciativa dela, mas ainda assim bem legal.

7. You Drive Me Wild (Jett): Joan interpreta essa música como ninguém e ao vivo a faixa ganha um balanço diferente do que teve na versão de estúdio, bem como um solo de guitarra. Os clássicos gemidos de Joan ficaram bem mais reais também.

8. Neon Angels on the Road to Ruin (Ford/Fowley/Fox): Se essa música já tinha um viés heavy metal na versão de estúdio, na versão ao vivo a influência é inegável. Lita arrasa na guitarra, principalmente no solo poderoso, e nos riffs super intensos. Cherie também não faz feio na música que talvez seja a mais difícil de cantar de todo o setlist das Runaways.

9. I Wanna Be Where the Boys Are (Fowley/Ronnie Lee): a letra dessa música ilustra muito bem o espírito da banda e Joan faz um vocal impecável acompanhado por um back de Lita (o primeiro oficialmente dela na banda). Mais uma música que nunca teve versão de estúdio, mas que sempre aparecia nas apresentações ao vivo.

10. Cherry Bomb (Fowley/Jett): com certeza o maior clássico as Runaways em sua melhor forma. Em apenas 2:12 Cherie consegue criar uma atmosfera super intensa. O coro de “Cherry Bomb!” feito por todas as Runaways também é bastante emblemático. O solo de Lita é inesquecível também.

11. American Nights (Anthony/Fowley): Considero essa a melhor faixa do álbum. Simplesmente porque traz o melhor de todas as integrantes de uma vez: vocais intensos, bateria ritmada, guitarras super sincronizadas, baixo marcante. E é impossível deixar passar a participação de Joan cantando no back e dando aqueles gritinhos de “aw” que se tornariam sua marca registrada.

12. C´mon (Jett): Faixa comum de ser tocada nos shows ao vivo, mas que ficou de fora da versão final de Queens of Noise. Cherie conta em sua biografia que quando foi retocar os vocais no estúdio, Lita lhe fez o primeiro elogio dizendo que seus vocais tinham ficado muito bons e que ela [Lita] tinha gostado.

A foto completa da capa e contracapa do álbum "Live in Japan"

A turnê seria encerrada com um grande show no Tokio Music Festival, ainda em junho de 1977, mas um acontecimento inesperado tornaria esse show inesquecível. E não por uma razão boa.

O baixo de Jackie Fox

Jackie tinha um baixo raro, um Thunderbird branco. De acordo com Cherie e a própria Jackie, ele fora um investimento da família de Jackie e esta tnha um carinho especial com a peça. Ela sempre pedia que os hodies tomassem cuidado com ele. Em Edgeplay, Jackie afirma que depois de uma passagem de som, recebeu a notícia de que seu baixo tinha caído do suporte e quebrado de um modo que não havia possibilidade de conserto. Mas ninguém sabia lhe explicar direito o que acontecera.

Cherie conta uma história bem diferente em sua biografia (inclusive com uma parte dramática em que Jackie a acusa de ter chutado o baixo de propósito), mas a versão dela bate com a de Jackie no seguinte ponto: o descaso e abuso de Kent Smythe.

Smythe era o único remanescente da equipe estado-unidense da banda na turnê no Japão (uma equipe japonesa havia sido contratada) e vivia às voltas com drogas. No Japão, onde conseguir drogas era um problema, Smythe andava sempre bêbado. Sua atitude era péssima para com a banda e as humilhações era constantes, mas as Runaways concordam que ele pegava mais pesado com Jackie.

Jackie fala abertamente sobre o assunto em Edgeplay e essa é uma das partes mais emocionantes do documentário. A ex-baixista narra, aos prantos, como se sentiu abandonada pela equipe da banda que sequer mostrou preocupação com o fato de seu baixo ter quebrado. Ela ainda conta que aquele foi o ápice de um desgaste emocional que já vinha aparecendo desde o início da banda: os abusos de Kim Fowley, a falta de dinheiro, o descaso da equipe, as acusações da imprensa, as brigas internas da banda.

Ela diz que já tinha pensado outras vezes em deixar a banda, mas que sempre ficava indecisava com o pensamento “E se essa banda realmente ficar famosa? Como vou ficar?”. E era isso que a segurava como uma Ruanway. Mas Jackie, reconhecida pelas outras integrantes como uma pessoa extremamente sensível, não usava drogas e ela disse em seu blog que o fato de estar sempre “limpa” tornava as coisas mais difíceis de lidar.

Sandy West, também em Edgeplay, diz que Jackie estava pressionada com a possibilidade de tocar no Tokio Music Festival e que não aguentou a pressão de estar numa banda no auge do sucesso. Mas pelo depoimento de Jackie, é possível perceber que a coisa era mais grave. Cherie conta (numa versão endossada por Jackie) que a colega estava arrasada com o problema do baixo e que se isolou. Cherie ficou preocupada e tentou ligar para o quarto de Jackie no hotel, mas não conseguiu falar com ela. Resolveu então ir lá pessoalmente, apenas para encontrar Kent Smythe bloqueando a porta. Cherie diz que teve que agredi-lo a fim de conseguir ir ver Jackie que estava completamente transtornada, chorando histérica, com uma garrafa de vidro quebrado os braços completamente ensaguentados.

A tentativa de suicídio fica implícita. Não fica claro o que aconteceu entre Jackie e Smythe. Jackie diz que foi o máximo que conseguia aguentar e deixou a banda no dia seguinte. Ela ainda acusa os produtores de descaso, pois teve que pegar um ônibus até o aeroporto, já que ninguém se prontificou a levá-la. Jackie termina se depoimento dizendo que foi a coisa mais corajosa que já fez em toda sua vida e que não se arrepende.

Jackie Fox, no entanto, teria seu nome para sempre marcado na história do rock ´n´roll como a baixista da formação clássica de The Runaways.

The Runaways sem Jackie Fox

A banda foi informada da saída de Jackie, uma vez que a própria já tinha ido, e teve que lidar com o fato de que seu maior show, o que aconteceria no Tokyo Music Festival, teria que ser feito sem Jackie.

Joan assumiu o baixo e é impressioante a falta que a guitarra base de Joan faz na música. Dêem uma conferida no vídeo da banda tocando sem Jackie:

Impossível não dizer que os ânimos não foram afetados.

Apesar de seu fim dramático, a turnê no Japão mostra The Runaways no seu auge e vários vídeos dessa época podem ser encontrados no Youtube. Vou postar os vídeos que posseum qualidade melhor:

Bibliografia adicional desse post

Datas das Turnês de The Runaways no Internet Archive

Essa foto foi uma das oficiais na turnê do Japão

Demorou, mas saiu o terceiro post sobre a trajetória de The Runaways que, mesmo depois de 3 meses, ainda continua como  termo mais procurado do blog seguido de “Jackie Fox”. Obrigada a todos que procuraram e comentaram. Esse blog tem orgulho de ser uma das poucas fontes seguras sobre The Runaways em português.

Só pra lembrar, esse post faz parte do projeto Born to Be a Runaways Fan e toda a informação veiculada foi retirada de declarações feitas pela própria banda. Para ler os posts anteriores, clique aqui.

Paramos em 1976 às vésperas da turnê da banda pela Europa. O último show da turnê nacional em solo americano foi no famoso Starwood L.A em Los Angeles, no dia13 de setembro. Kim Fowley recentemente contou em seu Facebook que o Led Zepepelin assistiu a esse show e que no final da apresentação, Robert Plant disse: “Isso funciona!”. O show é um marco histórico da banda, mas não só pelo reconhecimento artístico. Segundo a autobiografia de Cherie Currie, foi nesse show que ela vestiu pela primeira vez o infame espartilho branco. O traje que seria para sempre associado à sua imagem.

A polêmica do Espartilho Branco

Qual é o efeito de uma garota de 16 anos cantando de lingerie e plataforma?

É importante lembrar que o espartilho não era só polêmica entre o público, mas também entre a própria banda. Em Edgeplay, Cherie dá a entender em seu depoimento que viu a lingerie numa loja e que as Runaways decidiram que seria uma boa idéia comprá-lo para Cherie vestir. Mas o depoimento de Jackie dá a entender o contrário: que o espartilho não era bem visto pelas demais membros por apelar para um lado sensual que a banda não queria tomar. Afinal, elas queriam ser reconhecidas por sua música de qualidade e não por serem bonitas e sensuais. Lita Ford diz também no documentário que o espartilho mandava a mensagem errada e trazia atenção demais para algo que não era o foco. Kim Fowley, no entanto, diz que nunca teve a intenção de fazer de The Runaways uma banda sensual e que achava que o espartilho era algo “esportivo”. Esportivo? Um espartilho pode ser muita coisa, mas definitivamente não é esportivo, Sr. Fowley!

A questão é que Cherie fazia trocas de roupa entre as músicas por conta do tempo em que passava sem fazer nada. Porque, apesar de ser a vocalista principal, Joan Jett fazia vocal solo em uma quantidade considerável de músicas (nessa época, “You Drive Me Wild”, “Blackmail”, “Take It or Leave It”, “Rock ´N´Roll”, etc). Além disso, em músicas como “Johnny Guitar” onde o solo de guitarra guiava por vários minutos, Cherie se via no palco sem muito o que fazer. A troca de roupas vinha como um plus nos shows e ela passou a usar o espartilho em “Cherry Bomb”. Em sua autobiografia, ela diz que no palco se sentia a verdadeira Cherry Bomb e não mais Cherie Currie.

A prova de que Kim Fowley tinha uma mal gosto desgraçado e não entendia porcaria nenhuma do que as garotas estavam tentando fazer...

O problema é que o apelo visual de Cherie acaba causando impressões errôneas. O ato de vestir lingerie no palco e cantar uma música com o refrão “Olá papai / Olá mamãe / Eu sou a sua bomba de cereja / Olá mundo/ Sou sua garota selvagem” pode ser interpretado como 1) um ato transgressor que coloca a mulher numa posição de voz ativa sobre sua própria sexualidade e lugar no mundo; 2) como um ato amoral condenado pela sociedade que só podia mesmo ser feito por uma garota pervertida e vagabunda ou 3) como a ação de alguém que está desesperadamente tentando chamar a atenção porque não tem talento. Os fãs da banda (e eu me inclui) iam pela opção 1. Já o público geral ia pela 2 (tradicional família americana rs). E infelizmente, muitos músicos da cena da época iam pela opção 3.

No filme The Runaways, por exemplo, há uma cena em que as Runaways, numa passagem de som antes de um show, são zuadas por dois caras de uma banda de rock. Para se vingar, Joan Jett faz xixi na guitarra de um deles nos camarim. Essa cena nunca aconteceu. Joan, nos comentários em audio do filme, diz que a banda a que a cena se refere é o Rush, mas que ela nunca fez xixi na guitarra de ninguém. O caso é que Neil Peart e Geddy Lee realmente começaram a rir durante uma passagem de som das Runaways e houve um momento tenso entre as bandas. Ainda nos comentários do filme, Joan diz que esse é o tipo de coisa que a deixa puta da vida, mas que nunca fez nenhuma vingança, muito menos urinar no equipamento de alguém. O episódio aconteceu em 1977 numa festa em homenagem ao Rush.

Como fã do Rush (sim, ironicamente) digo que esse é um comportamento um tanto fora dos padrões da banda que é reconhecida por ser hiper educada e solícita. No entanto, escolher The Runaways para abrir pro Rush é uma escolha infeliz. Infeliz porque Rush e The Runaways são simplesmente bandas conceitualmente opostas. Enquanto The Runaways preza pela intensidade no palco, pelo rock ´n´ roll simples e cru, Rush está interessado em diversidade musical, tocar com máxima perfeição músicas extremamente difícieis. The Runaways é puro feeling enquanto Rush é pura técnica. Claro que The Runaways tem técnica (vide Lita Ford e Sandy West) e claro que Rush tem feeling (vide Alex Lifeson), mas o foco é diferente. Então, como muitos fãs disseram na internet, a coisa toda pode ter sido simplesmente um atrito de bandas e ideologia. Mas ninguém nunca vai saber o que aconteceu. O Rush nunca comentou a respeito.

Joan comenta sobre a má receptividade entre o meio de rock majoritariamente masculino:

Elas parecem uma ameaça?

Tinha um monte de filhos da mãe. Tinha algumas pessoas que era receptivas. Um monte de gente que achava [a banda] fofa e um tanto engraçada, mas tinham bandas que definitivamente tinham alguma contra contra a gente. (…)

Tinha muitos caras que nos tratavam que nem lixo e eram bem crueis. Isso certamente passou do passado com The Runaways para minha própria banda [referindo-se a sua carreira com os Blackhearts]. Eu vi bandas que disseram: “Eu não acredito que eu tenho que dividir o palco com o uma vadia”. (…)

É uma coisa de testosterona estranha. Eu não entendo porque eles se sentem tão ameaçados. Eu acho muito interessante, como uma questão social de nossa sociedade. Como é que isso deixa gente tão nervosa? Eles estão tão fechados nos papéis que mulheres têm que ser subservientes e que elas não podem ter personalidade própria. Eu acho com o caso do rock ´n´ roll, apenas a menção das palavras “rock ´n´ roll” implicasexualidade. Eles não mostravam Elvis da cintura pra baixo. Chuck Berry era considerado o tipo de pessoa que chegaria para levar seu filho de 14 anos pra fora de casa. Rock ´n´roll sempre foi considerado como um meio muito sexual. Eu acho que quando uma garota diz que está tocando numa banda de rock ´n´roll, ela está declarando que tem o poder sobre sua sexualidade e está dizendo o que ela vai fazer sobre isso e não o contrário. Algumas pessoas acham isso muito ameaçador.

http://www.juicemagazine.com/JOANJETT.html

Um bando de garotas tocando rock com letras sobre sexo com certeza era ameaçador. Um bando de garotas menores de idade tocando rock com letras sobre sexo era mais ameaçador ainda. O que nos dá uma idéia clara sobre a polêmica do espartilho.

A turnê da Europa

A turnê pela Europa foi fundamental para o sucesso da banda, que foi mais bem quista do outro lado do Atlântico do que nos EUA. Além disso, o impacto musical resultante dessa turnê foi avassalador pois as Runaways chegaram bem no boom de encontrar o início da cena punk rock. A influência dessa interferência foi crucial para definir as personalidades musicais da maioria das integrantes. Cherie, fã das melodias mais tradicionais, diz ter detestado o punk rock por julgá-lo violento e pouco harmônico. Já Sandy e Lita não incorporaram exatamente o movimento por terem sempre sido mais ligadas ao heavy metal e suas composições mais complexas. Joan, por outro lado, abservou a atmosfera completamente:

O estilo punk de Joan veio com a viagem pra Europa

Eu deixei a América de botas plataforma e glitter e quando voltei estava completamente punk. (…) Eu saí e vi o The Clash tocar o primeiro album. Tinha umas 2000 pessoas todas pulando ao mesmo tempo, o que foi uma coisa que eu nunca tinha experenciado e nem imaginado na América. (…) Era realmente assombroso. Era simplesmente incrível. Era tão poderoso. Foi muito bom ir lá ver e então voltar pros EUA e tentar proseguir com aquilo. (…) Musicalmente e emocionalmente, eu era ligada aos Ramones e aos Sex Pistols, definitivamente. Eu amava o The Clash. Minhas influências no entanto… Eu acho, que logo no começo, eu ainda tinha influência de muita coisa glitter musicalmente, mas eu achava que muito do punk rock tinha uma estrutura bem similar.

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Cherie, em sua autobiografia, diz que os punks da Europa tomaram as Runaways como parte de sua cultura musical. Mas que nem por isso a atmosfera nos shows deixava de ser hostil. Facas atiradas no palco, brigas e xingamentos eram constantes e Cherie diz que era a forma deles de “mostrar afeto”. Cherie passou a chamar muita atenção à medida que a banda ia ganhando mais sucesso internacional. Seu rosto virou o símbolo da banda e a loira recebia cada vez mais mensagens de fãs e ganhava mais espaços nas entrevistas. A situação passou a ficar tensa com as outras garotas, principalmente com Lita. As brigas entre as duas eram constantes e a hostilidade, declarada.

Com o clima tenso dentro e fora dos palcos, o uso de drogas tornou-se mais constante. Uso inclusive encorajado pelo gerente Scott Anderson que chegou a insinuar aos pais das garotas que se eles tentassem fazer com que suas filhas parassem de usar drogas, eles estariam condenando-as à falta de criatividade e à morte no mundo do rock ´n´roll. Foi por essa época que Cherie manteve um relacionamento amoroso com Scott, um homem no mínimo 15 anos mais velho que ela. Scott ganhou fama de irresponsável por não só icentivar o uso de drogas de menores, mas por também manter relações sexuais com elas. Jackie Fox foi a única que nunca caiu na rede de Scott Anderson: nunca usou drogas e nunca transou com ele.

Jackie, inclusive, era a única a questionar a falta de dinheiro. Kim Fowley não pagava as garotas, alegando usar o dinheiro dos shows para pagar a gravadora. No documentário Edgeplay, Jackie, Lita, Cherie e Sandy contam a experiência de ter que sempre pedir dinheiro e sobreviver à custa de hamburgueres baratos. Kim e Scott ainda estimulavam a constante briga por atenção entre a banda, fazendo as garotas brigarem entre si. A lógica, mostrada em Edgeplay, era: Cherie era muito ligada a Joan e às vezes a Jackie. Já Jackie dividia-se entre temporadas de amizade com Cherie ou com Lita. Cherie e Lita se destestavam. Sandy é descrita como tranquila em relação a todas, mas tinha mais amizade com Joan. Acho interessante dizer que as cinco não tinham muito em comum. Elas não eram amigas antes de entrar para a banda e se viram de repente forçadas a conviver sob um clima tenso.

Jackie, além de acusada de não saber tocar baixo direito, é descrita como a sabe-tudo-insuportável da banda na autobio de Cherie

O caso as Runaways vão parar na cadeia

Essa é uma história de três versões. Vou contar as três. Mas as três começam do mesmo jeito: as Runaways estavam saindo de Dover para uma embarcação até Calais, na França, quando a Scotland Yard parou o carro. Elas foram acusadas de roubo. As malas foram revistadas e Joan, Cherie e Sandy foram presas. O roubo eram de chaves de hotel que elas “colecionavam”, sugerindo uma idéia dada por Robert Plant. Mesmo dizendo que não sabiam que pegar as chaves de hotel poderia configurar roubo na Inglaterra, a coisa complicou.

  • Versão de Joan Jett

Joan diz que foi o momento mais assustador de sua vida vida e que sentiu-se extremamente mal e vulnerável. Ela não dá detalhes de como o mal-entendido foi resolvido. Ela conta a história nos comentários em audio do filme The Runaways.

  • Versão de Jackie Fox

Jackie não foi presa, mas conta em seu blog o relato das outras integrantes. Jackie diz que Joan, por ser a única maior de idade na época, foi posta numa cela diferente da de Cherie e Sandy. Querendo ficar com as companheiras de banda, Joan começou a cantar “Dead End Justice” a plenos pulmões até que o guarda ficou estressado e resolveu colocá-la junto das outras duas.

  • Versão de Cherie Currie

Cherie diz que as três entraram em pânico, pois além do lance das chaves, Cherie tinha guardado cocaína no estojo de maquiagem (e ela frisa que Scott deu a cocaína pra ela) e todas as malas iam ser revistadas pela polícia. Joan ficou em uma cela separada por conta de ser maior de idade e entrou em pânico por estar sozinha e por ter claustrofobia. Ela começou a chorar muito, o guarda ficou com pena e a colocou junto às colegas.

E aí, em qual versão você acredita? A de Jackie é a mais rock and roll…

Tá vendo o estilo glitter? Essa era a imagem da Joan antes do punk: maquiagem e brilho!

De volta a Los Angeles, as Runaways estavam visivelmente em crise interna. Em Edgeplay, Jackie, Cherie e Lita chegam a dizer que não era mais divertido e que aquilo tudo tinha virado um trabalho. Foi nesse clima, por uma obrigação de contrato, que saiu Queens of Noise. Gravado no Brothers Studio em Santa Monica, o álbum foi basicamente produzido pelas próprias Runaways. Isso porque Kim Fowley estava ausente. Jackie Fox, no entanto, lamenta a situação:

Porque Kim não estava por perto para dar uma de babá, nós acabamos fazendo muita coisa da nossa cabeça na produção, o porquê de que, na minha opinião, Queens of Noise não é um álbum muito bom. Nossa idéia de produção era bem a de colocar o nosso instrumento o mais alto possível. Sandy se recusou a tocar com um metrônomo e, como resultado, muitas das músicas tem um tempo desigual. A batida na maiorida as músicas é arrastada e nós simplesmente tentamos demais fazer as coisas de um jeito estiloso.

http://runawaysstories.blogspot.com/2009/08/august-4-2000-queens-of-noise.html

Título: Queens of Noise

Lançamento: 1976

Gravadora: Mercury Records

Produção: Kim Fowley, Earle Mankey

1. Queens of Noise (Billy Bizeau): Uma música emblemática da banda, mas que tem uma versão de estúdio pouco enérgica a meu ver. Joan canta solo na música e Jackie faz o back. As guitarras são pouco impactantes e confesso que demorei a me acostumar com a música (ouvi primeiro a versão ao vivo). A história por trás dessa gravação é tensa: Cherie dizia que Bizeau compôs a música para ela, mas em um dia em que Cherie não estava no estúdio, Joan gravou com a aprovação do resto da banda. Nem é preciso dizer que quando Cherie descobriu foi o caos – principalmente porque Joan já estava cantando solo em metade das músicas do setlist das Runaways – e foi feito um acordo de que nas apresentações ao vivo Cherie cantaria a primeira estrofe e Joan a segunda.

2. Take It or Leave It (Jett): Joan canta solo na música que é totalmente influenciada por Suzi Quatro. O tema é sexo casual. O riff de guitarra é bacana e solo de Lita muito bom.

3. Midnight Music (Currie/Fowley/Steven Tetsch): A música foi feita para atender os apelos de Cherie por músicas mais melódicas, mas ninguém da banda nunca gostou da música. A faixa fica no meio do caminho: não é nem 100% melódica nem 100% rock and roll, mas eu particularmente gosto muito. Curiosidade: Lita gravou o baixo original da música, pois Jackie estava no hospital internada com pneumonia. Mais tarde, Jacki regravou o baixo. Lita destestava tanto a música que elogiou Jackie dizendo que a melhor parte da música era o baixo (o que é definitivamente um elogio, uma vez que Lita sempre dizia que Jackie era uma baixista medíocre).

4. Born to Be Bad (Fowley/Steele/West): A música já existia desde os primórdios da banda e a letra é de Kim Fowley. Joan no vocal solo gravou a faixa bebendo Jack Daniels e é possível ouvi-la chorar pouco depois do solo de Lita. Eu sinceramente não sei se gosto dessa música porque ela beira perigosamente  o puro brega.

5. Neon Angels on the Road to Ruin (Ford/Fowley/Fox): Letra de Kim Fowley mais uma vez com refrão de Lita e estrofe de Jackie. A música foi uma concessão ao lado mais heavy metal de Lita. Os vocais de Cherie são impecáveis e a pegada de guitarra é provavelmente uma das melhores de Lita.

6. I Love Playing With Fire (Jett): Essa é simplesmente minha música favorita de The Runaways. Simplesmente porque consegue captar toda a força, energia e transgressão da banda. Sensacional! Uma das melhores interpretações de Joan nos vocais, sem dúvida. E também uma de suas melhores guitarra base. E eu concordo com Jackie Fox, é o melhor solo de Lita Ford!

7. California Paradise (Fowley/Jett/Kari Chrome/West): Outra música dos primórdios da banda. É uma música ótima, com um vocal muito bom de Cherie mas que ficou estranha na versão de estúdio. O excesso de reverber na bateria é insuportável. Ah, lembrando que “California Paradise” é a única música de The Runaways com solo de guitarra de Joan (o primeiro solo é dela e o segundo é de Lita).

8. Hollywood (Fowley/Fox/Jett): Vocal principal de Joan e provavelmente uma das melhores combinações vocais da banda. Durante o refrão o back é de Jackie e a voz dela misturando com a de Joan dá um efeito ótimo e a certa altura é bem difícil discernir quem está cantando qual parte. O baixo é bem marcado e provavelmente é a melhor linha de baixo de Jackie.

9. Heartbeat (Currie/Ford/Fowley/Fox/Earle Mankey): Lita e Jackie fizeram a música e Jackie fez a letra da música que originalmente se chamaria “Joey” e seria uma paródia de canção de amor para Joey Ramone. Jackie iria cantar solo na música, mas Cherie não gostou, uma vez que Joan já estava cantando solo em metade do album. Kim Fowley então sugeriu que as duas dividissem os vocais. A tentativa não surtiu efeito (Jackie diz que a voz dela e a de Cherie não “se davam bem”) e a gravação foi suspensa. No dia seguinte, quando Jackie chegou no estúdio, Cherie já tinha gravado a música e a transformado em uma canção de amor para David Bowie. Num show em Boston mais tarde, Jackie se vingaria do fato. Durante um show da banda em que David Bowie supostamente estaria na platéia, Cherie dedicou a música a ele fazendo uma grande cena. Mas no meio da música, Jackie tirou o suéter e ficou só de sutiã, roubando toda a atenção. rs Mas de qualquer forma, Bowie já tinha ido embora a essa altura. Quanto a “Heartbeat” é uma música totalmente não-Runaways.

10. Johnny Guitar (Fowley/Ford):  Considerada por alguns a pior música que The Runaways já gravou (incluindo aí Jackie Fox) e por outros uma das melhores. Difícil dizer. “Johnny Guitar” é um blues de 10 minutos com uma letra cantada por Cherie contendo a velha metáfora guittara-sexo. O solo de Lita corre solto e é um bom solo, apesar de extremamente longo. E os gemidos de Lita ao fundo são um tanto estranhos.

Sobras de estúdio (mais tarde incluídas no album Flaming Schoolgirls): “C´mon”, “Hollywood Dream”, “Hollywood Cruisin´”, “Strawberry Fields Forever” e “Here Comes the Sun”.

Originalmente essa seria a capa, mas Jackie sugeriu que a foto fosse trocada. O argumento era que o título iria arruinar a foto.

A campanha de Queens of Noise

Com Queens of Noise e a turnê na Europa, a banda ganhou mais projeção. Kim Fowley começou a pegar pesado no marketing e de repente The Runaways se viu como a maior importação de discos do Japão, ao lado de bandas como The Beatles e Led Zeppelin. Foi então que surgiu a possibilidade de se fazer uma turnê no Japão, que é o assunto do próximo post.

Pessoal, compilar toda essa informação dá muito trabalho, então não posso prometer quando será o próximo post. Vida super corrida. Mas enquanto isso, alguns audios legais pra vocês curtirem.

Para conferir a bibliografia, cheque os posts anteriores.

Gravações do show no Starwood L.A em:

Esse post é a continuação de uma série que traz a trajetória de The Runaways, a primeira banda de rock formada exclusivamente por garotas. Para ler o post anterior sobre o início da banda em 1975 clique aqui. Lembrando que essa idéia faz parte do projeto Born To Be a Runaways Fan e que todas as informações foram checadas em fontes relacionadas à banda. O que é fofoca musical não confirmada, eu sinalizo. E mais uma vez, no final do post temos a bibliografia. Então vamos continuar de onde paramos: Jackie Fox se torna uma Runaway.

É engraçado como a formação clássica das Runaways cria um esteriótipo dos vários tipos de garota. Jackie Fox comenta o fato em seu blog (fazendo um paralelo engraçado entre The Runaways e Spice Girls) e mais tarde Joan Jett diz a mesma coisa nos comentários em audio do filme The Runaways (estrelado por Kristen Stweart e Dakota Fanning). Se cada Runaway era um tipo de garota, então que tipos são esses?

Cherie e Lita como opostos

Primeiramente temos a garota visual, performática, fashion e drama queen: Cherrie Currie, sem sombra de dúvida. Ela inclusive se tornou uma espécie de imagem visual de The Runaways, especialmente na época da turnê no Japão (assunto para outro post). Cherie lançou moda com o corte de cabelo a la David Bowie para garotas e seu modo de portar no palco, extremamente performático e exagerado, fez escola. Mas Cherie também foi (e é) a rainha do drama e a verdade é que sua versão sobre os acontecimentos varia de acordo com as décadas.

Se por um lado temos a performance, de outro temos a pura energia nervosa, frequentemente taxada de masculina, de Lita Ford. Lita é o oposto de Cherie, e de um jeito bem interessante. As duas são performáticas em certo sentido, mas enquanto Cherie apela para o lado fashion, Lita vai pela via do “vamos quebrar tudo e deixar essa p**** surtada”. Lita, que nos anos 80 foi chamada de “rainha do metal”, está na lista das que querem chocar pelo barulho e pela ferocidade, sem se preocupar em formar conceitos ou seguir uma linha de pensamento. Lembrando que isso se aplica às duas como artistas, não a suas respectivas vidas pessoais.

Joan Jett de certa forma sempre funcionou como o espírito da banda. Digo espírito no sentido de que ela era quem dava uma sustentação, uma atitude, uma certa coerência. Joan dava a base das coisas (e ironicamente ela toca guitarra base rs) e pode ser considerada a feminista da banda. De todos os membros, ela é quem manteve o discurso mais coerente em relação à música, ao rock e à questão das mulheres no cenário musical. A grande maioria das músicas de The Runaways é de autoria ou tem co-autoria de Joan. Além disso, nos registros de shows ao vivo, é possível perceber que ela é quem se comporta como a líder da banda, conversando com a platéia, apresentando as músicas, fazendo os comentários de “C´mon”, “Let´s go” e “Now everybody”, mesmo que Cherie fosse, na época, a vocalista oficial.

Num contraponto com Joan, temos Jackie, com seu lado não necessariamente feminista, mas decididamente mais feminino. Jackie é de certa forma o cérebro da banda e certamente a componente que tinha mais senso crítico em relação às músicas. Em seu blog, ela escreveu sobre a gravação de Queens of Noise e fez uma crítica bem racional a respeito do setlist, criticando, inclusive, músicas de sua própria autoria. Mas mesmo com esse lance crítico e intelectual, Jackie sempre foi rechaçada pelas outras Runaways por ser sensível demais. No documentário Edgeplay, Lita diz: “Jackie, eu te amo, mas você é uma hipocondríaca”. De acordo com o resto da banda, Jackie era muito sensível e sempre achava que estava doente, além de se preocupar em manter as unhas feitas (mesmo sendo uma baixista), fato que gerava uma certa irritação em Lita, especialmente. A contribuição de Jackie nas composições da banda são sempre regadas a linhas elegantes. Um exemplo é a faixa “Hollywood”.

Sandy, sempre imensamente feliz na bateria...

Já Sandy West é frequentemente mencionada pelos fãs como “o coração” de The Runaways. E é verdade. Sandy é o tipo de garota esportiva, ativa, engraçada, mas que não tem lá muita maldade sendo facilmente influenciável. Nos vídeos ao vivo não tem como não se emocionar ao ver Sandy na bateria, sorrindo o tempo todo, como se aquele lugar fosse o melhor do mundo. Não tem como negar em Sandy um certo quê de inocência, de ingenuidade, típico daqueles que vivem pelo coração. Suas declarações sobre a banda são carregadas dessa vibração.

Em 1976, The Runaways era a única banda de rock de garotas na California e possivelmente a única que realmente se levava a sério dos EUA. A partir desse ano, as garotas deixaram de tocar nos clubes de Los Angeles para fazer uma turnê pelo país. Kim Fowley tinha a idéia de que se a banda fizesse uma turnê tocando de graça (ou praticamente de graça) acabaria chamando a atenção de alguma gravadora. E foi isso que aconteceu. Depois de uma turnê tensa contando com um carro para cinco garotas mais o gerente Scott Anderson (Kim Fowley nunca foi para a estrada com a banda) e vários quartos de hotel de quinta categoria, The Runaways assinou com a Mercury Records.

O primeiro album de estúdio, intitulado The Runaways saiu no primeiro semestre de 1976. Kim Fowley foi o produtor musical do disco (sim, na época eram discos) e o esquema de gravação era aquele de “dobra as guitarras e os vocais” tão praticado na década de 70. Foi basicamente Fowley quem armou o album e suas excentricidades valem nota. Cherie Currie gravou os vocais no escuro, segundo Jackie Fox e a própria Cherie. A idéia é que se ela se sentisse feia, cantaria melhor. Os abusos de Fowley já foram muito comentados na mídia e aparecem de forma bem explícita no filme The Runaways e mais detalhado no documentário Edgeplay.

Kim Fowley e Jackie Fox: a relação complicada entre empresário e membros da banda era permeada por altos e baixos. Apesar dos abusos, ele era o que prometia o sucesso...

O caso é que Fowley gritava o tempo todo, falava palavrão, humilhava as garotas e colocava umas contra as outras (de forma a impedir que elas se rebelassem contra ele). Todos os membros da banda concordam que ele pegava mais pesado com Cherie e com Jackie na época, talvez pelo fato de Lita Ford simplesmente gritar de volta quando ouvia algo que não queria, por Joan estar muito focada na música e por Sandy não ser do tipo que leva desaforo pra casa. Em Edgeplay, as ex-Runaways  retratam Fowley como um filho da mãe abusivo e bullying que além de tratá-las como lixo, não as pagava. O caso é que Kim Fowley detinha nada menos do que 100% dos direitos autorais sobre as músicas de The Runaways. Ou seja, as garotas não recebiam nada sobre o que produziam. Cherie Currie diz em sua autobiografia que elas praticamente imploravam por dinheiro para comprar comida e cigarro. Jackie Fox, novamente em seu blog, diz que Fowley não pagava nem o que era obrigado a pagar por ano pela lei da California. Além disso, ele ainda detinha o direito de tutor sobre as garotas quando essas estavam em turnê. Sua falta de responsabilidade também inclui oferecer alcool, cigarro e drogas a um bando de adolescentes. Em relação à questão de abuso sexual, Sandy West diz em Edgeplay “Não é a mim que você deve perguntar”, mas o assunto não é abordado por nenhuma outra integrante.

Jackie Fox não gravou baixou no disco de estréia da banda

Um dado importante sobre a gravação de The Runaways é que Jackie Fox não tocou baixo no album. Fowley a proibiu de tocar e pagou o baixista do Blondie, Nigel Harrison para fazer o trabalho. A verdade é que Jackie tocava baixo a poucos meses e ela mesma diz que passou apertado nos primeiros tempos. Antes dos ensaios (que eram feitos em um galpão imundo), ela ficava com Sandy West praticando:

Eu era uma guitarrista antes de entrar pra banda, então levou um tempo pra que eu enfiasse na cabeça que eu era parte da sessão rítmo. Sandy ajudou demais com isso – quando eu entrei pra banda ela e eu íamos ensair mais cedo e ela treinava comigo. Lá pelo fim do meu tempo com a banda, acho que nós éramos realmente capazes de trabalhar juntas numa unidade.

http://www.myspace.com/jackiefuchs/blog/474018410

Título: The Runaways

Lançamento: 1976

Gravadora: Mercury Records

Produção: Kim Fowley

Fotografia: Tom Gold

1. Cherry Bomb (Jett/Fowley): provavelmente a música mais conhecida da banda. Para ver mais sobre a composição, leia o post anterior a esse. Cherie Currie canta solo na música.

2. You Drive Me Wild (Jett): a primeira música que Joan Jett compôs na vida. Ela diz que ainda se lembra de estar no quarto trabalhando nela. Joan canta solo e a faixa recebeu algumas críticas por ter uma adolescente de 16 anos gemendo logo depois do solo de guitarra. De acordo com Joan, essa é uma música sobre conexão íntima.

3. Is It Day Or Night? (Fowley): uma música sobre ressaca. A pegada forte de guitarra e baixo é característica marcante. Eu pessoalmente, gosto muito. O vocal solo é de Cherie.

4. Thunder (Kari Chrome/Mark Anthony): nessa faixa Cherie e Joan dividem os vocais, apesar de que o vocal de Joan está bem mais baixo do que o de Cherie, dando a impressão de que só a última canta. No refrão, no entanto, é possível perceber que Joan também está cantando solo e não segunda voz.

5. Rock ´N´ Roll (Lou Reed): um cover da música do Velvet Underground que eu, pessoalmente, acho bem melhor do que o original. A versão é mais agressiva e mais rápida do que do Velvet e a letra ganha um novo significado, uma vez que é sobre uma garota chamada Jenny que ouve rock no rádio e muda sua vida. Nessa versão de estúdio Joan canta solo, mas nas apresentações ao vivo, Cherie cantava solo. Eu prefiro Cherie cantando.

6. Lovers (Jett/Fowley): uma espécie de baladinha Runaways. Joan canta solo que quer encontrar um amor, mas um amor mais revoltado. Mas aí a música muda no refrão para um “eu sei que você também me ama”. Um tanto inconsistente, mas legal. Cherie canta o back.

7. American Nights (Fowley/Mark Anthony): um verdadeiro clássico da banda e uma espécie de hino ao rock and roll. Cherie canta solo sobre as festas em L.A., sobre como o pessoal é tão estranho na noite e como as Runaways são “as rainhas do barulho – a resposta para os seus sonhos”. Cherie toca piano no solo.

8. Blackmail (Jett/Fowley): Joan canta solo nessa música sobre vingança. A idéia é de fazer o horror na vida de algum amor do passado. “Você vai desejar nunca ter nascido – chantagem / Eu vou fazer você pagar pela vida que estragou – chantagem”. Apesar da letra meio boba, a vocal de Joan é muito bom com direito aos gritos que seriam sua característica alguns anos depois e a pegada é bem divertida.

9. Secrets (Jett/Fowley/Krome/West/Currie): outro clássico da banda com um vocal poderoso de Cherie e back de Joan. “Secrets” fala sobre coisas que você faz quando ninguém vê. Existe uma versão de “Secrets” com Micki Steele nos vocais. Cherie contribuiu com algumas modificações no rítmo.

10. Dead End Justice (Jett/Fowley/Scott Anderson/Currie): uma espécie de favorito underground entre os fãs da banda. “Dead End Justice” é a fusão de duas músicas “Dead End Kids” e “Justice” e tem 10 minutos. Em duas partes, a faixa conta a história de duas adolescentes em L.A. (Joan e Cherie) que aproveitavam a noite surtando nas ruas mas que são presas por consumo de drogas. As duas vão parar numa prisão juvenil e começam a planejar a fuga. Ao fim da saga, Cherie leva um tiro do guarda e Joan fica com a escolha de ir sozinha ou morrer junto com a amiga. As Runaways costumavam encenar a música no palco com Jackie e Lita como guardas. Cherie espalhava sangue falso na blusa e na boca e fingia a morte.

Parte interna do album. Logo antes do setlist, Joan Jett deixa uma mensagem: "Esse álbum é para os jovens na idade e para os jovens no coração. É para aqueles que sabem o quanto é bom ser jovem e que aproveitam sua juventude do melhor jeito que sabem. Aproveite escutar esse álbum tanto quanto nós amamos escrever, tocar, cantar e cria-lo pra vocês. Quando ouvirem essas músicas, vocês vão lembrar de toda diversão que estão tendo em ser e permanecer jovens. Afinal, as pessoas dizem que esses são os melhores anos de nossas vidas. Bem, nós sabemos que são e aproveitamos cada minuto. Pegue esse álbum, viva-o e ame-o. Das Runaways pra vocês. Joan Jett."

O album se tornou uma espécie de clássico cult da época, apesar de nunca ter tido muitas vendas. É importante lembrar que na época ver cinco adolescentes cantando sobre sexo, drogas e rock ´n´roll era um absurdo e a banda enfrentou muito preconceito, inclusive no próprio meio do rock. Os relatos falam de objetos atirados no palco, xingamentos e sabotagem nos shows. As Runaways eram ainda ridicularizadas por uma imprensa machista que ou as chamavam de patricinhas revoltadas sem motivo ou de prostitutas. Elas eram acusadas de não saber tocar (apesar de provaverem o contrário nos shows) e de estarem denegrindo a imagem da mulher nos EUA. Tocando apenas com homens em show de rock, elas sofriam todo tipo de agressão verbal e moral. Joan Jett diz que, no entanto, algumas bandas mostravam algum respeito e “proteção”. Entre elas Led Zeppelin, Motorhead, Kiss e Cheap Trick. No entanto, alguns comentários maldosos da época:

New Musical Express, Agosto de 1976 e Creem, Novembro de 1976: Como bonecas barbie, essa banda é composta de garotas tentando ser garotos.  Na verdade, elas eram garotas tentando agir como David Bowie que tentava agir de modo alternativo como uma garota ou um andróide… Então onde está tudo isso? Garoto ou garota, um poser é um poser.

Creem Magazine, Abril de 1977 – Essas putas são um lixo. É tudo que se tem a dizer. Apesar do que o coordenador da West Coast Blow Job possa dizer elas não são nada boas, elas são tão ruins que são boas nisso, elas não são nada.

http://www.myspace.com/jackiefuchs/blog/505527614

A contra-capa do disco insiste em mostar a idade de cada uma delas... A estratégia de marketing de Fowley era de bater na tecla de que elas eram adolescentes...

Essa retaliação não é uma surpresa se pensarmos que até então a única mulher no rock de mainstream era Suzi Quatro. E mesmo assim Suzi tinha uma banda formada por homens e tocava baixo, não guitarra, algo tão associado ao masculino. Kim Fowley também insistia em fazer uma divulgação baseada no fato de as garotas serem adolescentes, o que, sinceramente ajudava pouco a combater o preconceito. Em meio a esse cenário, The Runaways partiu para mais uma turnê nacional a fim de divulgar o primeiro album. Dentre os shows dessa turnê, está o famoso show no clube Agora, em Cleeveland, em julho de 1976. O show foi gravado da mesa de som e lançado não oficialmente.

Título: Live at the Agora

Gravação: 19 de julho de 1976 em Cleeveland, Ohio

A gravação foi feita diretamente da mesa de som e o disco nunca foi lançado oficialmente. Imagino que alguém deve ter divulgado a fita. Na internet, o selo Ballroom Records vem associado à contra-capa, mas as informações são bem incertas.

As músicas marcadas em vermelho fazendo parte do album The Runaways.

1. California Paradise: nessa versão o baixo está péssimo. Sinceramente, está bem bobo, parecendo trilha de desenho animado. Num contraponto, os vocais de Cherie estão impecáveis. É incrível como ela canta igualzinho ao album de estúdio e faz parecer fácil. As guitarras estão baixas.

2. Cherry BombLita Ford faz um pequeno solo muito bacana no início da música. Cherie canta maravilhosamente bem como sempre, mas o “cherry bomb” do refrão fica por conta das outras Runaways.

3. Take It Or Leave It: Joan canta solo, mas seu microfone está bem baixo. Lita dá uma mascada feia no riff da introdução.

4. Secrets: Versão ao vivo impecável com Jackie Fox arrasando nas linhas de baixo. Joan canta solo o primeiro verso, o que é novidade, mas seu microfone está bem baixo. Cherie cantando é sensacional.

5. You Drive Me Wild: Apesar do microfone baixo, Joan consegue levantar a galera com essa música. Com certeza uma das melhores do album.

6. C´mon: Também uma das melhores do album, “C´mon” conta com uma interpretação ótima de Cherie e Joan no back. Lita também faz um solo maravilhoso.

7. Blackmail: Muito bacana essa música tocada ao vivo. Gosto especialmente do baixo e da guitarra base. No final da faixa, Joan apresenta a banda e foca nas idades de cada uma. Influência total de Kim Fowley.

8. Wild Thing: Sandy West, que sempre canta no coro das músicas, canta solo nessa música. Mas apesar de sua interpretação ser impecável, Lita “sujou” a música com alguns riffs desnecessários. Ficou confuso.

9. Don´t Use Me: De longe a melhor do album, com a melhor interpretação e execução. “Don´t Use Me” mais tarde teve a letra modificada e virou “Don´t Abuse Me”.

10. Rock ´N´Roll: com Cherie nos vocais solo. Joan tenta animar a galera para cantar junto, mas a coisa só funciona mesmo quando ela diz que estão gravando. Versão mais rápida que a gravada em estúdio.

11. Is It Day Or Night?: muito boa também, destaque para Joan na guitarra base.

12. Johny Guitar: clássica comparação de rock com relação sexual. Lita Ford num solo épico e bem, bem longo, ao ritmo de blues.

13. Dead End Justice: por que não temos um vídeo disso???? Extremamente performática. E Cherie, mesmo sendo a drama queen mor, é um talento. Gosto do solo de Lita nessa música. E do famoso “But Cherie you must try harder” (“Mas Cherie você deve tentar mais a sério”) que até virou piada interna da banda.

O final de "Dead End Justice" com Jackie como o guarda e a morte de Cherie. A banda saia do palco e deixava as duas. Jackie então fingia espancar Cherie e depois saía deixando a loira "morta" alguns minutos no palco.

Final de "Dead End Justice" quando Cherie usa o sangue falso para fingir que está morrendo.

Logo após a turnê nacional, The Runaways embarcou em uma turnê pela Europa. Mas esse post já está muito grande, então fica para o próximo.

Bibliografia:

Mesmo que post anterior. Clique na tag para checar.

The Runaways (filme); comentários em audio de Joan Jett, Kristen Stweart e Dakota Fanning.

Esse post faz parte do projeto Born to be a Runaways fan. A idéia é oferecer informação de qualidade sobre The Runaways para o público que não lê em inglês. Todas as informações contidas nessa série de artigos sairam de fontes e depoimentos ligados aos membros da banda. A bibliografia em inglês está no final desse post.

 Em 1975, Joan Jett (então Joan Larkin) conheceu o controverso produtor musical Kim Fowley na saída de um clube noturno (Rodney´s English Disco). Joan, então com 16 anos, disse que tocava guitarra e que gostaria de formar uma banda só de garotas. Foi através de Kari Chrome, uma garota de 14 anos com quem Joan costumava sair às vezes para baladas glam rock, que Joan ficou sabendo de Fowley, que achou a idéia bacana e perguntou se Joan tinha uma demo. Ela nem sabia o que era uma demo. Vale lembrar que Kari Chrome contribuiu com algumas letras para The Runaways, entre elas “Thunder” e o clássico “California Paradise”.

Alguns dias depois, Sandy West (então Sandy Passavento), também com 16 anos, abordou Fowley na saída de um restaurante (The Rainbow) em Hollywood dizendo que tocava bateria em uma banda com garotos, mas que queria tocar numa banda só de meninas. Lembrando da conversa com Joan anteriormente, Kim Fowley deu o telefone de Joan para Sandy.

Sandy e Joan em 1975

 Quando Joan Jett tomou três ônibus até a garagem da casa de Sandy West o início de The Runaways começou a ser traçado.

Nós simplesmente sentimos aquele clique. Nós fechamos na hora – disse Joan Jett – Ela era tão simpática e extrovertida. Ela era como eu: era um tomboy, amava esportes, era durona. Eu não acreditei em como ela tocava. Ela era tão sólida, forte, poderosa, uma baterista muito boa. E eu não quero nem dizer boa por ter 16 anos – por ter qualquer idade! Ela tinha aquela puta qualidade e era poderoso!

http://www.laweekly.com/2010-03-18/music/the-runaways-wild-thing/

Da esq. pra dir.: Micki Steele, Sandy West e Joan Jett em 1975 quando a banda ainda era um trio

As duas garotas ligaram para Fowley e ele, ao ouvir toda aquela energia saindo apenas de uma guitarra e uma bateria,  resolveu começar a banda e sair procurando garotas que tocavam algum instrumento em clubes noturnos e festinhas em L.A.

A primeira garota a entrar para as Runaways foi Micki Steele (então Michael Steele) tocando baixo. Durante os primeiros meses, a banda foi um trio. Juntas, Sandy, Joan e Micki gravaram uma demo que foi lançada em 1991 sob o título de Born to be Bad. Micki cantava solo na maioria das músicas.

The Runaways em sua primeira formação. E sim, essa é a cor natural do cabelo de Joan Jett!!! O cabelo preto foi aparecer em 1976…

 Título: Born to be bad

Lançamento: 1991

Gravação: 1975

Gravadora: nenhuma (coleção de demos)

As músicas marcadas de roxo apareceram em albums posteriores da banda (regravados):

1. Yesterday´s Kids (Kari Chrome – informação não confirmada)
2. Is It Day or Night? (Kim Fowley)
3. Let´s Party Tonight (sem informação)
4. All Right Now (A. Fraser / P. Rodgers) Cover da band inglesa Free.
5. Thunder (Mark Anthony / Kari Chrome)
6. Rock & Roll (Lou Reed) Cover do Velvet Underground.
7. American Nights (Mark Anthony / Kim Fowley)
8. California Paradise (Kari Crhome / Kim Fowley / Joan Jett / Sandy West)
9. I´m a Star (sem informação)
10. You Drive Me Wild (Joan Jett)
11. Born to Be Bad (Kim Fowley / Micki Steele / Sandy West)
12. Wild Thing ( Chip Taylor) Cover do The Troggs que é na verdade um cover de The Wild Ones.

Opinião: A qualidade da gravação não é boa e vale lembrar que a banda estava bem no início e ainda experimentava com os instrumentos. No entanto, é interessante ouvir o início de tudo. Principalmente pela chance de ouvir Micki Steele nos vocais. Clássicos como “You Drive Me Wild”, “California Paradise” e “American Nights” em suas primeiras versões já soam muito bons. Mas se é a primeira vez que você escuta The Runaways na vida não é uma boa forma de se começar. Comece pelo Live in Japan.

A primeira demo da banda foi gravada em agosto de 1975 e logo após a gravação Lita Ford (então Carmelita Ford) entrou para a banda. Lita originalmente fez o teste para o posto de baixista. No entanto, durante um intervalo, ela pegou a guitarra e começou a tocar com Sandy:

“Eu entrei e Sandy e eu nos topamos logo de cara” – disse Ford – “Eu comecei a tocar uma música antiga do Deep Purple, ´Highway Star´. Ela sabia a música inteira e eu nem acreditei. Nós só tocamos. E assim que terminamos era tipo “Eu te amo”.

http://www.laweekly.com/2010-03-18/music/the-runaways-wild-thing/

Lita Ford com um olhar inocente… Quem diria, não?

No documentário Egdeplay, Lita diz que  Joan fez um “Isso foi incrível” quando ela e Sandy terminaram de tocar. Como o posto de baixista já estava ocupado, Lita tornou-se a guitarrista solo. Dona de um temperamento difícil e frequentemente classificado como agressivo, a loira com então 17 anos tinha uma habilidade fora do comum para a guitarra. Ainda no documentário mencionado, Lita diz que sempre teve em mente a imagem que Kim Fowley lhe passou no telefone chamando-a para o teste: fama. Dirigindo de Long Beach até L.A., ela deu a chance da banda melhorar a qualidade musical explorando solos e fazendo contrapontos entre guitarra base e solo.

“Meus pais me disseram para correr atrás disso. Minha maior indicação de que meus pais estavam me apoiando foi quando Kim Fowley me ligou e me passou a idéia de me juntar a The Runaways. Eu desliguei o telefone, virei pra minha mãe e disse “Quem é esse cara? Algum tipo de pervertido?” e minha mãe disse “Vai lá, Lita, vá pra Hollywood e toque com essas garotas”.

http://www.sing365.com/music/lyric.nsf/Lita-Ford-Biography/05DD00253A08DBA748256D570027666E

 Mas essa nova característica não veio fácil. Lita quase não ficou na banda e chegou a desistir por um curto período de tempo por conta de diferenças musicais. Ao contrário das outras garotas, Lita já dominava seu instrumento a muitos anos e curtia um rock mais pesado com pegadas mais complexas. O rock mais básico de The Runaways não lhe fazia muito a cabeça. Além disso, ela não topava com Kim Fowley. Mas percebendo as boas vibrações da banda e vendo nela uma oportunidade para crescer musicalmente, Lita ficou e aos poucos foi imprimindo sua marca de rock agressiva.

Cherie Currie e o famoso corte de cabelo a la David Bowie…

Em novembro de 1975, The Runaways faz sua primeira apresentação para o público no famoso clube Whisky-a-Go-Go em Hollywood. Até então elas tocavam em festas pela região. Foi por essa época que Kim Fowley e Joan Jett conheceram as gêmeas Marie and Cherie Currie então com 15 anos. Fowley então convida Cherie para fazer um teste para entrar para a banda. No documentário Egdeplay, Kari Chrome diz que não sabe ao certo se Fowley tinha planejado colocar uma loira bonita como vocalista ou se foi apenas uma coincidência.

 O fato é que Cherie Currie (e sim, esse é o nome verdadeiro dela) apareceu para o teste de vocalista sem saber cantar nenhuma música. Fowley tinha dito a ela para aprender uma música de Suzi Quatro, mas ela escolheu “Fever”, uma música lenta que ninguém conhecia. Foi então que Joan Jett e Kim Fowley foram para uma sala vazia ao lado do galpão e fizeram “Cherry Bomb” em menos de 30 minutos. A música é um trocadilho com o nome de Cherie e a palavra “cherry” que significa cereja em inglês. A idéia é de uma garota aparentemente doce mas que é rebelde. E rebelde aqui engloba alguma conotação sexual e muito barulho. Cherie aprendeu a cantar a música e mais tarde foi aceita na banda na posição de vocalista solo.

Da esq. pra dir.: Joan Jett, Micki Steele, Peggy Foster, Sandy West, Cherie Currie e Lita Ford. No meio, Kim Fowley.

ERRATA: Pessoal, de acordo com informações do Facebook Sandy West – The Beat Goes On, que é um Facebook bem confiável atualmente atualizado por um amigo pessoal da própria Sandy, a garota de cabelos encaracolados da foto acima é Peggy Foster e não Micki Steele. De acordo com algumas evidências, inclusive a biografia de Cherie Currie, Micki Steele nunca chegou a tocar no mesmo line-up que Cherie. Quando Cherie entrou na banda, Kim Fowley estava à procura de uma nova baixista e vocalista pras Runaways. O teste de Lita Ford pra o baixo, inclusive, foi uma tentativa de substituir Micki.

 Pouco tempo depois Micki Steele abandona o grupo. Sua saída tem muitas versões, mas a difundida pela própria Micki é de que ela teria sido demitida por Fowley por não aceitar as investidas sexuais dele e por achar “Cherry Bomb” uma música estúpida. Fowley rebateu diversas vezes dizendo que Micki não tinha a “mágica” necessária para a carreira musical.

Peggy Foster substitui Micki no baixo mas dura apenas três semanas. Motivo: uma briga com Cherie Currie sobre quem cantaria a música “I´m your fantasy”. Cherie mais tarde diria que não se sentia confortável cantando sobre ser a fantasia de alguém e muda a música para “You´re my fantasy”. A música, lenta e brega, não implaca e nunca foi gravada.

Jackie Fox praticamente aprendeu a tocar baixo depois que entrou pra banda…

Nesse contexto entra Jackie Fox (então Jacqueline Fuchs) para ocupar o posto, novamente vago, de baixista. Jackie já tinha tentado entrar para The Runaways como guitarrista, mas não tinha passado no teste. Kim Fowley então liga para ela após a saída de Peggy Foster dizendo que ainda achava que ela poderia se dar bem na banda.  É comum que guitarristas tenham alguma noção de como tocar baixo,   então Jackie faz o teste para baixista com um baixo emprestado. Todos os membros da banda votaram para que Jackie entrasse, de menos Lita Ford. Cherie convence Lita a deixar Jackie entrar, mas mais tarde no documentário Edgeplay, Cherie disse que na época estava cansada e que realmente não se importava com quem entrasse para a banda.

Com a entrada de Jackie, temos a formação clássica de The Runaways.

A formação mais popular de The Runaways teve início no final de 1975

Bibliografia (em inglês):

Runaways Stories: blog com o acervo de histórias escritas por Jackie Fox sobre a banda.

The Runaways: Wild Thing: Matéria do L.A. Weekly sobre Sandy West e sua trajetória musical e pessoal.

Joan Jett: A Girl, A Runaway: Entrevista com Joan Jett em que ela conta sua experiência com a banda.

Wikipedia (Micki Steele): Página de Micki Steele na Wikipedia.

Wikipedia (The Runaways): Apesar de muita informação estar incorreta (ou pelo menos não confirmada), vale a pena dar uma olhada nas páginas dos albuns.

Lita Ford Biography: resumo da biografia de Lita Ford dentro e fora de The Runaways.

Perfil de Jackie Fox no Facebook: a verdadeira Jackie Fox.

Perfil de Jackie Fox no Twitter: também a verdadeira.

Perfil de Jackie Fox no My Space: contém informações sobre a banda no blog.

Site oficial The Runaways: o site é ligado diretamente a Joan Jett. Tem um design legal mas informações bem resumidas.

Perfil The Runaways Tribute no Facebook:  vale pelas fotos.

Edgeplay: A Movie About The Runaways: documentário feito pela também ex-Runaway Victory Trishler-Blue.

Neon Angel: A Memoir of a Runaway: biografia de Cherie Currie co-escrita pela própria. Lembrando que Cherie é uma drama queen,então alguns fatos devem ser encarados com cautela. Isso sem falar que cocaína raramente ajuda a lembrar das coisas com coerência.


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